top of page
  • Foto do escritorMaik Bárbara

A CULTURA DA MORTE: OS SAPIENS ATRASADOS NA INVENÇÃO DOS COSTUMES FÚNEBRES

Atualizado: 30 de nov. de 2022

DENTRO DAS SOCIEDADES MODERNAS EXISTE SEMPRE ALGUM TIPO DE CULTURA FUNERAL, EM GERAL ENVOLVENDO ENTERROS DOS CORPOS, E ESSE É UM DOS COMPORTAMENTOS MAIS PRÓXIMO DA COMPLEXIDADE DA MENTE DO HOMO SAPIENS, PORÉM A ORIGEM DISSO PODE SER ANTECESSORA À PRÓPRIA RAÇA HUMANA COMO A CONHECEMOS ATUALMENTE


Porém o surgimento desse comportamento é um dos temas mais polêmicos no campo da evolução humana.

Quando os primeiros humanos começaram a adquirir uma cultura-da-morte? Como esse comportamento se manifestou ao longo do tempo e do espaço? Essa prática apareceu de forma independente em diferentes espécies? Para entender isso devemos ter clara a concepção.

Hoje a segregação do mundo é vista apontando política, religião e economia como elementos distintos, mas isso é uma visão moderna. No passado e em diversas culturas espalhadas pelo mundo essa separação não existia. De acordo com o livro: O Egito Antigo - Volume 30. Coleção: Tudo É História (1982), do autor Ciro Flamarion Cardoso, com base na interpretação de autoras escandinavas, o pensamento dos antigos egípcios era monista onde a visão de mundo “não fragmenta a realidade em esferas estanques”. Ou seja, os egípcios antigos não viam a morte como o fim, e a encaravam como parte do rito de passagem para continuar a vida, porém de outra forma. E esse tipo de concepção é algo que o pensamento moderno não carrega em essência, todavia comportou no passado.

Esse exemplo acima serve para demonstrar que a complexidade do pensamento do homo sapiens se desenvolve e recria conceitos conforme evolui tanto intelectual quanto moral e eticamente.

Mas como teria sido então a configuração da evolução do enterro dos mortos como ritual fúnebre?


Muitos proclamam que seria um ritual hebreu antigo, mas as raízes dessa tratativa com os falecidos podem ter origens muito mais profundas.


Cemitério vem do latim coemeterium, que por sua vez descende de cinisterium, e é a composição de duas palavras unidas: cinos = doce e renor = mansão. Da mesma forma temos a variação derivada do grego kouméterion, de kaimâo, que é igual a: eu durmo. Em resumo Doce Lar/Mansão/Casa de Dormir. Já os dicionários modernos respondem o conceito desse substantivo como: lugar onde se enterram os mortos ou guardam cadáveres.



Algo muito diferente de um sepulcro. Coisa que pouca gente sabe. Etimologicamente vem também do latim sepulcrum, e é o mesmo que: câmara mortuária, edificação ou monumento que tem como objetivo o sepultamento de um ou vários indivíduos mortos. Já na religião, os altares dentro das igrejas tomam esse nome, pois é ali que são colocadas as relíquias dos santos.


Só lembrando que as “relíquias” na maioria das vezes consistiam em partes dos corpos dos ditos santos, onde óleo era derramado por uma fissura ou buraco no topo do dispositivo contendo a relíquia, escorria para dentro passando pela parte do corpo depositada ali e pingava por uma saída logo abaixo. Mórbido, mas um costume que até tempos recentes era praticado.


Ainda nas raízes dos hebreus, em diversos momentos, a herança escrita desenvolvida por eles e os gregos, a Bíblia, intitula o cemitério como o território onde dormem os mortos até serem acordados pelas trombetas do Juízo Final, quando se levantarão incorruptos. Em outras partes, a morte é apontada como sinônimo de sono. Por exemplo, Jesus, ao falar sobre a morte de Lázaro, diz: “Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo” (Jo 11, 11). Todavia, nem sempre a morte é exibida dentro dessa concepção na Bíblia, e por vozes, no Antigo Testamento e Novo, o falecimento é encarado como uma desgraça entre os Homens.



ORIGENS ANTIGAS

Existem diferentes maneiras de abordar essas questões, e a mais específica é saber se a cultura da morte precede os neandertais e ao homo sapien modernos. Até o momento, as análises na arqueologia paleolítica têm se centrado no contexto arqueológico: ou seja, se os esqueletos são preservados completamente, a existência de um corte de sepultura ou se estão presentes objetos que possam ser interpretados como elementos simbólicos ou bens funerários. Essa visão restringe o comportamento funerário quase exclusivamente aos enterros, algo excepcionalmente raro antes do Pleistoceno Superior, iniciado há 127 mil anos, e período apontado por vários estudiosos, tal como Yuval Noah Harari no livro bestseller mundial Sapiens, como o momento da revolução cognitiva do gênero homo.


Assim, há a necessidade de encontrar novas abordagens metodológicas para que o que foi preservado até nossos dias esteja bem no centro das investigações como foco do objetivo do sítio arqueológico descoberto: os ossos humanos. O registo fóssil europeu é uma fonte de informação fundamental devido à abundância de esqueletos fósseis. É nesse ponto que entra a tafonomia forense, disciplina que pode ajudar a esclarecer questões fundamentais neste campo. Aplicá-la seria algo como fazer “autópsias” de fósseis humanos para tentar saber como morreram e, sobretudo, o que aconteceu com os restos mortais do indivíduo entre a morte e a escavação moderna.


Esta linha de investigação cristalizou-se num projeto de nome: DEATHREVOL. As raízes e a evolução da cultura-da-morte. Uma pesquisa tafonômica do registro paleolítico europeu, que foi selecionada para receber financiamento no âmbito do programa de Pesquisa e Inovação Horizonte 2020 da União Europeia e que será realizada nos próximos cinco anos no Centro Nacional de Investigación sobre la Evolución Humana (CENIEH).

“Este é o primeiro projeto de grande escala centrado em um estudo tafonômico exaustivo do registro fóssil europeu”, explica Sala, especialista em tafonomia do CENIEH, membro da equipe de pesquisa de Atapuerca e pesquisador do programa Juan de la Cierva-Incorporación, que obteve 1,5 milhões de euros de financiamento para este projeto submetido ao concurso 2020.

Realizar isso exigirá a participação de uma grande equipe de acadêmicos e uma rede de métodos que incluem análises tafonômicas, reconstruções virtuais para análises forenses, estudo de padrões de distribuição espacial, relações gerais entre diferentes locais e modelos matemáticos para interconectar o amplo espectro de dados compilado.


Hoje temos por volta de 500 fosseis de neandertais descoberto, desses 40 podem ser identificados como esqueletos preparados e devidamente enterrados, ou seja, sofreu preparativos fúnebres e foi enterrado intencionalmente. Há casos de enterros não intencionais, quando o indivíduo é surpreendido por algum deslizamento por estar dentro de uma caverna ou abrigo, e ser soterrado vivo, morrendo com o processo, mas esses não foram o caso, e a tafonômia ajuda a rastrear isso.


Lembrando que neandertais e homo sapiens conviveram coexistiram na Terra, na europa, por mais de 3.000 anos, e isso abre um leque de possibilidades imensas dentro da palioantropologia.


Com esse estudo pretende-se colocar um ponto final e determinar: o homo sapiens copiou o ritual fúnebre dos neandertais. O que colocará nossa espécie irmã muito à frente do desenvolvimento sapien em vários sentidos.

Comments


30b5d6ac-5e47-4534-a782-1fcb5b20ef80.jpg
  • YouTube
bottom of page