No final do século XIX, uma pequena estatueta de argila medindo cerca de 4 cm foi encontrada no fundo de um poço artesiano, nos Estados Unidos. A descoberta reverberou em seu tempo, ainda mais após alguns pesquisadores apontarem a datação de aproximadamente 2 milhões de anos para o objeto.
DESCOBERTA
Em 1889, um grupo de trabalhadores procurava água perto da cidade de Nampa, no sudoeste de Idaho, EUA. Para criar um poço, eles perfuraram cerca de 90 metros, até que sua bomba a vapor começou a cuspir pedaços de argila. Entre os pedaços, os trabalhadores descobriram uma pequena forma de argila que parecia ter sido moldada na forma de uma mulher.
Os trabalhadores teriam perfurado um estrato geológico conhecido como "Formação Glenns Ferry", composto principalmente de argila. Ao que se sabe geologicamente, esse tipo de formação foi criada há aproximadamente 2 milhões de anos, durante a transição Plioceno-Pleistoceno.
Em 1975, a área foi designada como um marco natural nacional dos EUA, conhecido como Monumento 'Nacional Hagerman Fossil Beds'. É considerado a coleção mais rica do mundo de fósseis de plantas e animais que viveram na América do Norte, pouco antes da Idade do Gelo.
No local também foi encontrada a maior coleção de fósseis de cavalo Hagerman, também conhecido como "zebra americana", que foi extinto há cerca de 10.000 anos. Interessante é que não foram encontrados fosseis humanos, bem como nenhum outro artefato artificial no local, apenas a tal Estatueta. Hoje, a cidade de Nampa fica a 200 km do Parque de Monumentos Nacionais.
Algumas décadas depois, o pesquisador Albert A. Wright, descreveu a estatueta e sua autenticidade em seu livro The Nampa Mistery (1895):
“Não foi o produto de uma criança pequena ou de um amador, mas foi feito por um verdadeiro artista. Apesar de muito desgastada pelo tempo, a aparência da boneca ainda é distinta: tem uma cabeça bulbosa, com boca e olhos quase imperceptíveis; ombros largos; braços curtos e grossos; pernas longas, a perna direita quebrada… Há também marcas geométricas fracas na figura, que representam padrões de penas ou joias - elas são encontradas principalmente no peito, ao redor do pescoço, nos braços e pulsos. A boneca é a imagem de uma pessoa de alta civilização, artisticamente vestida”.
Ele afirma que a argila da Formação Glenns Ferry foi selada sob uma camada de basalto formada por atividade vulcânica, pois há uma boa quantidade de ferro por toda parte e grande parte da argila evidencia descoloração de óxido de ferro.
"Ao visitar a localidade em 1890, fiz um esforço especial, enquanto estava no solo, para comparar a descoloração do óxido sobre a imagem com a das bolas de argila ainda encontradas entre os detritos que vieram do poço, e verifiquei que era tão quase idênticos quanto possível. Essas evidências de confirmação, em conexão com o caráter muito satisfatório das evidências fornecidas pelas partes que fizeram a descoberta e confirmadas pelo Sr. GM Gumming, de Boston (na época o superintendente dessa divisão da Oregon Short Line Railroad, e que conhecia todas as partes e estava no local um ou dois dias após a descoberta) colocou a genuinidade da descoberta além de qualquer dúvida razoável"
Muito do que sabemos sobre a descoberta da estatueta de Nampa vem da descrição escrita por Wright, que finaliza seu texto com a frase: “Não há motivo para questionar o fato de que esta imagem surgiu na bomba de areia da profundidade relatada”. Sabendo da fama de sensacionalista de Wright, outros pesquisadores resolveram analisar o artefato e o contexto de sua descoberta, que é o que faremos agora.
O QUE REALMENTE SE SABE
Muito analisado sobre a descoberta, e muitos traçaram paralelos entre a estatueta de Nampa e as estatuetas Aurignacianas, encontradas em cavernas na França e na Bélgica, especialmente a estatueta feminina apelidada de 'A Vênus impudica de Laugerie-Basse'.
No entanto, a estatueta de Nampa vai contra as linhas do tempo geralmente aceitas da história, evolução e humanidade. Não é segredo que estudiosos apontam que a autenticidade da estatueta de Nampa é impossível. Vejamos o que os especialistas dizem.
"Além do Homo sapiens sapiens , nenhum hominídeo é conhecido por ter feito obras de arte tão antigas quanto a de Nampa. Ainda que uma única espécie ainda desconhecida e altamente racional tivesse vivido por lá, apenas este achado não seria suficiente para comprovar tal fato.”, Richard Thompson, Michael Cremo - The History of the Human Race (The Condensed Edition of Archaeology) .
“As evidências, portanto, sugerem que os humanos do tipo moderno viviam na América no Plio-Pleistoceno, que data de cerca de 2 milhões de anos atrás. Também nota-se que nenhum outro artefato inteligentemente moldado foi encontrado no local, o que nos leva a crer que tal objeto não fazia parte do estrato apontado como berço da estatueta.” (Código Antigo, Hashmond. 2016)
Não há muito a se falar sobre isso. É algo que sempre menciono em meus artigos: "Sem evidência não há ciência."
A estatueta em si não se torna uma evidência, pois não é possível realizar uma datação laboratorial na mesma, sendo assim, foi datada rudemente pelo método de estratificação, que se resume em supor a idade do objeto de acordo com a profundidade da camada em que ele foi encontrado.
Acontece que no caso da Estatueta de Nampa, não se tem certeza do real estrato em que ela teria sido encontrada. Ela teria sido sugada pela bomba dos trabalhadores e sido cuspida, ou seja, foi retirada de seu real leito, seja ele qual fosse. Existem várias maneiras pelas quais a estatueta pode ter descido até a camada de 2 milhões de anos:
Nos arredores do local existem várias fissuras na rocha. Existe também atividade de mineração, várias minas estão localizadas nos arredores. De fato, o mesmo cano que trouxe a estatueta à luz, inicialmente pode ter a empurrado para baixo, ou quem sabe ela já havia sido cuspida em extratos mais rasos, mas só foi percebida posteriormente.
É importante lembrar que nenhum outro artefato humano de uma idade tão antiga foi encontrado em qualquer lugar do Mundo, e olha que as pessoas têm procurado.O sudoeste de Idaho, em particular, está sujeito a escavações frequentes, porém, apenas fósseis animais e vegetais tem sido encontrados.
A VERDADE
Atualmente, já se sabe muito bem a origem de este artefato. O famoso historiador e geólogo americano JW Powell, analisou figura enquanto estava no território de Idaho e escreveu sobre a descoberta da estatueta na revista Science:
"Segure a estatueta na altura de seu olho e deixe-a cair a seus pés, e ela se despedaçará em fragmentos. Alegou-se que esta estatueta havia sido trazida do fundo de um poço artesiano enquanto os homens trabalhavam, ou na época em que trabalhavam no poço, e que ao sair foi descoberta, o que não pode ser verdade. Apenas em segurar o artefato nota-se que se desfaz em pó, então, como poderia ele ter resistido á pressão absurda de uma bomba hidráulica utilizada para sugar toneladas de argila, pedras e terra?"
Powell não parou apenas nas indagações. Em seu livro Truth and Error or the Science of Intellection, ele afirma ter trabalhado em Idaho de 1860 a 1885, e conhecer as tribos indígenas que habitavam as redondezas, tendo visto por diversas vezes as crianças indígenas brincarem com essas figurinhas. Powell afirma sem sombra de dúvidas que a pequena imagem pertencera recentemente a alguma criança indígena.
Da mesma maneira, no livro citado ele afirma que entrevistou os trabalhadores que diziam ter encontrado a estatueta e todos disseram que tudo não passou de uma brincadeira, que o item foi encontrado na superfície por um trabalhador de nome Edward Brennan, que teve a ideia de enganar seus amigos, inventando que o item havia sido cuspido da bomba.
Vários funcionários da época se lembravam do ocorrido e afirmam ter se divertido muito, pois todos que olharam para o item acreditaram que era genuíno. Bom, genuíno ele era, apenas não tinha a idade que se pensava ter.
"E eles pareciam bastante satisfeitos por eu ter detectado a farsa", diz Powell ao final do capítulo 18 de seu livro.
Sabemos que muitos dirão que Powell não comprovou nada, que seu livro foi inventado e outras falácias. Obviamente não foi, no livro, o autor comprova suas afirmações com imagens e fotos, que mesmo em preto e branco, podem indicar a veracidade do que ele diz. Bom, mas á título de curiosidade, consideremos que ele tenha inventado tudo.
Ainda assim, o que a história e a arqueologia tem registrado atualmente não corrobora com a ideia de seres tão racionais há 2 milhões de anos atrás. Não é tão fácil assim quanto muitos imaginam, achados arqueológicos precisam ser datados, e para serem datados, os métodos de datação precisam ser respeitados, coisas que sabemos que não aconteceu com a Estatueta de Nampa.
Se ela não pôde ser datada da forma correta, não há motivo algum para afirmar que ela tenha 2 milhões de anos de idade, pois pensar isso, o sujeito precisaria apenas "acreditar" no que foi dito, e ignorar o que é sabido e mostrado atualmente. Sempre digo em meus artigos e repito:
A História e a Arqueologia não tem e nunca tiveram o objetivo de indicar a verdade absoluta sobre o passado, de dar a certeza sobre a "história da humanidade". O objetivo dessas duas áreas é simples e claro para os que fazem parte dela - Nos indicar quais evidências restaram sobre os fatos do passado, para que possamos apenas tentar entender e formar um panorama plausível e possível.
Um historiador ou arqueólogo de verdade nunca buscará novas hipóteses para tentar explicar duvidoso, ele apenas dirá: Historiográfica ou Arqueologicamente não se tem nenhuma evidência de tal fato, sendo assim, nada se pode afirmar.
Bibliografia: J.W. Powell - Truth and Error or the Science of Intellection
Revista Science: Ed: 3 -1900.
Albert Wright - The Nampa Mistery
https://www.idahoarchaeology.org/nampa-figurine-hoax
A História e a arqueologia são cheias de hipóteses alternativas e mirabolantes. Quer saber quais mais já foram desmistificadas?
Que tal aprender o que realmente era a tão famosa "Bolsa Anunnaki"?
Para saber mais, adquira meu e-book em:
https://www.youtube.com/watch?v=pPuRBY7yVfk&ab_channel=Contextologia