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Foto do escritorMaik Bárbara

Expansão Territorial: Os Rastros Neandertais e a Conquista da Europa

Atualizado: 8 de dez. de 2022

Os primeiros Neandertais da Península Ibérica descobertos no ano passado podem ter pertencido a outros membros do gênero 'Homo', e eles podem ter sido os primeiros hominídeos a entrar na Europa.


Para a arqueologia, uma reles pegada no chão é muito mais que uma marca, se estiver fossilizada então, passa a ser um marcador temporal na incógnita que é o desenho da linha do tempo da história da humanidade no planeta. Pois pegadas podem revelar informações sobre o que ou quem as deixou, o que faziam naquele momento, como era o meio ambiente, por onde andavam, o peso do indivíduo, altura, proporções físicas e até seus hábitos.


No rastreamento da incógnita evolução humana, os elos perdidos são encontrados nos detalhes escassos.

Há pouco mais de um ano, em 2021, uma grande área ao pé da Playa del Asperillo, próximo aos penhascos da região, na falésia de Asperillo, costa da Área Natural de Doñana, em Huelva, Espanha, numerosas pegadas de animais, juntamente com vários indivíduos diferentes identificados deixaram para trás o registro de sua passagem pela Terra e história. Esses indivíduos eram hominídeos, parentes do homo sapiens. 87 neandertais foram identificados pelas pegadas nesse sítio arqueológicos, desses já há certeza da identificação de 36 listados que viveram na Espanha pré-histórica e com certeza já se tem informações de consistir em 11 crianças e 25 adultos.


Até então, a única referência temporal que permitia estabelecer a idade do local era a datação de uma das dunas que cobriam a superfície do sítio arqueológico há cerca de 106 mil anos - Pleistoceno Superior: de 10.000 a 82.800 anos atrás. Assim como a maioria das pegadas de hominídeos encontradas em todo o mundo, essas foram datadas de acordo com o ambiente em que se encontravam. Por isso, a equipe de pesquisadores (*fontes ao final do artigo) lançou a primeira hipótese ao tentar atribuir as pegadas encontradas que pertenciam aos neandertais, que viveram no Pleistoceno Superior, e isso se mostrou verífico com o avanço das pesquisas.

Análise de Pegada - Imagem de autoria: Eduardo Mayoral

A confirmação se deu no decurso das investigações: ao recolherem amostras da superfície onde foram encontradas as pegadas, e pereciam de datação adequada, e também das dunas que sobrepunha as marcas petrificadas no chão, descobriu-se a idade com cerca de 295.800 anos, realocando aquela pequena população hominídea dentro da linha histórica do Pleistoceno Médio - ou seja, muito antes do que se pensava anteriormente ser o momento populacional da região.


Mudança Climática Drástica

A nova datação colocou as pegadas em um novo contexto geográfico e ambiental. O continente europeu sofreu mudanças climáticas drásticas há cerca de trezentos mil anos, e o clima relativamente quente mudava para condições muito mais frias, o que foi um precursor de uma nova era glacial drástica. Na época, o nível do mar no continente europeu estava em média cerca de absurdos sessenta metros abaixo do nível atual. Isso implicava que o litoral de Huelva estaria a vinte ou vinte e cinco quilômetros da costa de sua posição hoje. E para os hominídeos neandertais descobertos, aquela região era uma zona habitável e relativamente segura longe da beira mar.

Esse fato não só demonstra a complexidade de traçar a linha histórica da evolução humana, como também complica, e muito, o rastreamento de restos humanoides e sua área de vivencia, uma vez que a tendência de um grupo em desenvolvimento é procurar se estabelecer ou migrar sempre em regiões onde há abundancia de água potável e fontes de alimentação. Os exemplos do Rio Amazonas, Rio Nilo, Rios Tigre e Eufrates, e o Rio Indu do Vale do Hindu mostram como grandes civilizações de humanos modernos, sapiens, afloram, prosperaram e evoluem ao redor de grandes afluentes. E nessa região da Espanha pré-histórica mostra que o local era propício para as necessidades da vida humana da época. Sendo assim, se resumia a uma planície costeira muito extensa e, provavelmente, criada pelo delta de um rio. Passível de ter sido coberto por água durante as estações chuvosas e total ou, parcial, exposto durante as estações secas. Sobre este ambiente de lago raso e salino, feito de solo poligonal e coberturas microbianas, hominídeos e a fauna da época pisotearam a região ao se locomover por ali. Hoje, o mesmo tipo de cobertura poligonal é encontrado em extensas áreas de pântano, tanto no deserto quente quanto em climas tropicais.

Regiões vegetadas um tanto extensas seriam encontradas nas áreas não inundáveis ​​desta ampla planície costeira, propiciando habitat para os neandertais, além de abrigo e clima ameno. Ao seu redor, haveria um desenvolvimento significativo dentro da ecodinâmica de sistemas dunares (formação de dunas) que se moveriam em direção à terra a partir da costa. E esse ecossistema propiciou a conservação das tão valiosas pegadas exploradas hoje.


Novos Suspeitos de Pegadas?

Uma pegada = varios espectros de estudos e inúmeros resultados


O contexto ambiental e a paisagem mudaram em relação à interpretação inicial. A questão, portanto, tornou-se: compreender quem produziu essas pegadas e se eles também mudaram enquanto conviviam na região. E as respostas devem ser encontradas nos registros paleontológicos.

Acredita-se que fósseis de hominídeos pertencentes ao Pleistoceno Médio sejam da linhagem neandertal, ou seja, Homo neanderthalensis e Homo heidelbergensis. No entanto, seus vestígios ainda são muito escassos, fragmentados e dispersos geograficamente. Pior ainda, pegadas são mais escassas do que restos de esqueletos, por isso a importância desse sítio arqueológico e sua relevância para o estudo daquele período na Europa.

Em todo o Pleistoceno Médio europeu, apenas quatro sítios forneceram vestígios desse período: Terra Amata na França - 380.000 anos, Roccamonfina na Itália - 345.000 anos, atribuídos ao Homo heidelbergensis, Biache-Vaast na França - 236.000 anos, Homo neanderthalensis, e Theopetra na Grécia - 130.000 anos, Homo neanderthalensis.


Por outro lado, deve-se considerar que as características formais da pegada não são apenas o resultado da anatomia do pé, mas também de outros fatores como biomecânicas, o tipo de substrato e os processos que deram origem ao pé fóssil. O que leva as pegadas estudadas e sua ótima preservadas devido ao meio ambiente, e refletir muitas das características anatômicas, tal como a impressão do arco dos dedos, o que raramente acontece em locais como este em Huelva.

Para confirmar a qual grupo de hominídeos pertencem as pegadas, é necessário comparar suas características anatômicas com o registro esquelético conhecido do Pleistoceno Médio.


Quase todos os fósseis de pés conhecidos para este período vêm do sítio Sima de Los Huesos - Atapuerca, Espanha, e estão associados a indivíduos relacionados aos neandertais. Fazer uma atribuição mais precisa seria difícil e corre o risco de grande margem de erro, pois há muitos debates sobre a evolução dessa linhagem e a definição taxonômica do Homo heidelbergensis.

Diferentes modelos para a evolução da linhagem neandertal foram propostos, mas essa questão ainda está longe de ser resolvida, dada a escassez de registro fóssil e o novo e mais complicado quadro evolutivo fornecido pelos últimos estudos antigos de DNA. Além disso, nem todas as características anatômicas evoluíram na mesma proporção, e os polimorfismos provavelmente ocorreram em diferentes características e em diferentes taxas de ocorrência.


Apesar dessas incertezas, o sítio de Doñana prova ser um registro crucial para entender as ocupações humanas na Europa durante o Pleistoceno. As hipóteses e descobertas recentes abrem um horizonte mais amplo de possibilidades. Por exemplo, podemos estar olhando para os restos mortais dos primeiros hominídeos neandertais ou de seus ancestrais mais diretamente relacionados, o Homo heidelbergensis.

Tudo isso devido à descoberta de reles pegadas que não se mostram tão reles assim.

FONTE:

Trabalhos e conclusões expostas pela Equipe de Pesquisadores do Sítio Arqueológico até o momento:

Antonio Rodríguez Ramírez, Professor do Departamento de Geodinâmica e Paleontologia, Universidade de Huelva

Eduardo Mayoral Alfaro, Professor de Paleontologia, Universidade de Huelva

Ana Santos, Professor Assistente, Universidade de Oviedo

Asier Gomez-Olivencia, Paleontólogo. Ramón y Cajal Bolsista de Pesquisa do Departamento de Geologia, Universidad del País Vasco / Euskal Herriko Unibertsitatea (2022)

Jérémy Duveau, Pesquisador Associado, Museu Nacional de História Natural (MNHN)

Ignacio Díaz-Martínez, Instituto de Pesquisas em Paleobiologia e Geologia, Universidade Nacional do Rio Negro

Jorge Rivera Silva, Doutor em Ciências Físicas. Técnico de Serviço de Radioisótopos, Centro de Pesquisas CITIUS, Universidade de Sevilha

Juan Antonio Morales, Professor de Estratigrafia, Universidade de Huelva

Ricardo Díaz-Delgado, Laboratório de SIG e Sensoriamento Remoto (LAST-EBD), Estação Biológica de Doñana (EBD-CSIC)

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