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Inteligência Artificial Capaz de Decifrar Tabuletas Escritas em Cuneiforme

Atualizado: 1 de nov. de 2023


Cientistas Israelenses Desenvolvem Sistema de Inteligência Artificial que Pode Prever Palavras e Frases em Tabletes de Argila Parcialmente Danificados, bem como traduzir e transliterar inscrições.

Rachaduras ou pedaços quebrados, são coisas bastante comuns para os que estudam e trabalham a escrita cuneiforme, apenas 0,8% dos tabletes em argila estão perfeitamente legíveis. Mas e se isso não importasse? E se um "robô" pudesse decodificar as linhas destruídas, já traduzindo para você? É o que propõe uma equipe de cientistas e técnicos em informática de uma Universidade Israelita.

O Cuneiforme

Ao longo de sua trajetória no planeta, a humanidade criou diversas formas de comunicação, como a oralidade, símbolos e desenhos. Uma das primeiras maneiras de trocar mensagens e registrar experiências foi a pintura rupestre. Estudiosos já encontraram em paredes de cavernas pelo mundo, gravações que datam de 80 mil anos atrás. Até que a escrita surgiu.

Em mais ou menos 3500 a.e.c., as primeiras escritas começaram a ser gravadas em vasos, cerâmicas, tijolos e posteriormente, nas tabuletas de argila. Essa primeira forma de escrita ainda não era o cuneiforme, mas o protocuneiforme (também conhecido como pre-cuneiforme), que teve origem com os Ubaidianos, ancestrais dos sumérios, e posteriormente, foi aprimorado por estes. Era um meio mais arcaico de escrita, onde os símbolos eram geralmente desenhados e não impressos na argila.

O protocuneiforme foi a forma de escrita oficial da mesopotâmia até mais ou menos 3.000-2.950 a.e.c, quando a escrita cuneiforme passou a ser utilizada de forma geral. Com um instrumento em forma de cunha, feito de lascas de bamboo, a argila era marcada e os símbolos gravados, então as tabuletas eram levadas ao forno.

Tab BM CT PC 32A Tab BM CT SC 21E

Praticamente todas culturas que empregavam a linguagem cuneiforme desapareceram uma a uma antes do início da era comum, e seus registros escritos caíram no esquecimento. Essa foi uma das razões foi o progresso vitorioso da escrita fenícia nas seções ocidentais do Oriente Médio e nas terras clássicas da Europa mediterrânea. A este sistema de escrita de eficiência e economia superiores, o cuneiforme não poderia oferecer uma concorrência séria.

A redescoberta dos materiais e a reconquista das escritas e linguagens mesopotâmicas foram as conquistas dos tempos modernos. Digo modernos, pois foi apenas nos últimos 200 anos que tivemos certeza da existência dos povos e impérios sumérios. Paradoxalmente, o processo começou com a última ramificação do cuneiforme propriamente dito, as inscrições de Ganjinameh, feitas para os reis Dario e Xerxes (VI a IV a.e.c) da Pérsia.

Isso até e compreensível, porque nesta época os persas eram os últimos que ainda utilizavam o cuneiforme, principalmente para escrita monumental. Exemplos dispersos de inscrições persas antigas foram relatados na Pérsia desde o século XVII. Esta inscrição trilíngue possui 414 linhas escritas em cuneiforme persa antigo, 260 em cuneiforme elamita moderno e 112 em cuneiforme acadiano.

Inscrições de Ganjinameh, Monte Alvand, Iran.

Décadas se passaram até que as três inscrições fossem traduzidas, e após isto, tornou-se bem mais fácil a decodificação das tabuletas e dos diversos tipos de cuneiforme, pois utilizando-se das técnicas utilizadas pelos primeiros filólogos arqueólogos e historiadores, conseguimos evoluir nosso conhecimento sobre o cuneiforme, hoje em dia, conseguimos traduzi-lo razoavelmente bem.

O grande problema em tudo isso, é que os textos que queremos traduzir estão, como sabemos, em tabuletas de argila que datam de 2 a 5 mil anos atrás, e grande parte destas está destruída, ilegível ou incompleta. É aí que entra uma equipe de pesquisadores da Jerusalem's Hebrew University.

Inteligência Artificial

Tal equipe de arqueólogos, historiadores e profissionais em computação, liderada pelo Dr. Shia Gordin, criou um mecanismo que pode decodificar e prever palavras em linhas de tabletes danificados, assim como quando você digita uma palavra no Google e a função de previsão automática é ativada.

Tablete TC 214, usado para testar a AI desenvolvida.

A inteligência artificial é um programa de computador baseado em algoritmos, que simulam a inteligência humana de forma mais organizada e rápida, e aplicam-na em uma questão ou problema. A IA tornou-se recentemente uma grande aliada dos que trabalham com processamento de linguagem, pois pode ser alimentada e atualizada de acordo com a evolução linguística. Essa em questão, criada pelos Israelitas, foi alimentada com o vocabulário de dezenas de estilos de cuneiforme, segundo reportagem do Daily Mail.

Shia Gordin, arqueólogo oficial da pesquisa, afirma que antes da IA ser utilizada, os arqueólogos e especialistas em linguagem trabalhavam de forma "subjetiva e demorada", o que mudou totalmente após a inclusão do novo sistema. Ele diz:

“O método manual está se tornando cada vez mais difícil, pois muitos tabletes já se deterioraram tanto, que os pesquisadores dependem de dicas contextuais para preencher manualmente o texto que falta"

O pesquisador explicou que a equipe usou um modelo já treinado em línguas semíticas, incluindo o hebraico, todas semelhantes ao acadiano, e em seguida, testaram o sistema ocultando partes existentes do tablete interpretado. O modelo previu as palavras que faltavam com “90 por cento de precisão”. Assim, a Máquina Babilônica foi usada para preencher as lacunas nas antigas tabuletas persas datadas entre os séculos VI e IV a.e.c.

Incrivelmente, a IA conseguiu perfeitamente realizar não só a tradução do que estava legível no cuneiforme persa, como gerou opções de logogramas e termos que estavam ilegíveis ou destruídos utilizando o contexto preliminar do mesmo texto. Obviamente seres humanos podem fazer isso, e fazem. Mas como Shia afirmou, o mesmo resultado, por vezes, até mais aproveitável, é alcançado pela AI em aproximadamente 45 minutos de scans e computação dos dados da tabuleta.

Os autores desenvolvedores desse sistema irão apresentar formalmente, em novembro, na "Conferência sobre Métodos Empíricos em Processamento de Linguagem Natural", um artigo cientifico contendo detalhes e informações a Inteligência Artificial (IA) utilizada pelo programa.

Mas já podemos ficar bastante animados, pois em uma entrevista o Dr.Yuval Noah Harari, um dos historiadores da equipe que desenvolveu o sistema, afirma que "os scripts de 10.000 tabuletas cuneiformes datando de 2500 a.e.c. - 100 e.c., foram inseridos no novo programa de IA. Conhecido como “A Máquina Babilônia”, que promete ajudar historiadores, arqueólogos, filólogos e outros diversos profissionais, que assim como eu, trabalham com a decodificação dos mais diversos estilos de cuneiforme.

Bibliografia S. Gordin. - How the secrets of ancient cuneiform texts are being revealed by AIKiup, L. and R.C. Thompson, Editors. - The Sculptures and inscription of Darius the Great on the rock of Bihistun in Persia. A new collation of the Persian, Susian, and Babylonian texts with English translations, etc. British Museum



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