O que os mesopotâmios faziam com seu lixo? Esgotos e coleta de lixo foram fornecidos pelos governos da cidade? As evidências atuais sugerem que mesmo com um sistema de esgoto complexo e planejado, os desafios da gestão de resíduos – entre os maiores problemas para as megacidades modernas – já existiam nas primeiras cidades sumérias.
Lixo
Assim como nós, o sumério produziam lixo, e como sabemos, lixo precisa de espaço, que era limitado dentro das cidades. Ruas e pátios eram inadequados, o que significava que o lixo tinha que ser movido a distâncias significativas para os monturos, montes de lixo urbano e detritos orgânicos localizados nos limites da cidade. Monturos estes que podem atrair vermes e necrófagos; e não surpreendentemente, os espíritos malignos mesopotâmicos geralmente estão associados a monturos urbanos.
Sim, a arqueologia também analisa e estuda o lixo dos antigos, que nos dá diversas informações sobre o cotidiano desses povos que vivaram há milhares de anos. A cidade de Ur, por exemplo, têm depósitos de lixo de tamanho significativo. Sua estratigrafia variável sugere um processo de despejo ocasional em grande escala de lixo institucional e industrial, misturado com descarte frequente de lixo doméstico em pequena escala.
O depósito de lixo de Ur mostra alternância comparável entre grandes e pequenos episódios de despejo de fontes variadas.
Os grandes episódios de despejo provavelmente foram criados por grupos de trabalho temporário contratados por famílias para resolver um problema público específico, no entanto, o lixo doméstico parece ter chegado por diversas vias: descarte regular e frequente por indivíduos de cada domicílio ou descarte regular por catadores especializados.
Não, não há registros de 'coletor de lixo' entre as profissões oficiais da Mesopotâmia conhecidas a partir dos textos do terceiro milênio a.e.c. em diante. 'Porteiro' ou carregador era uma profissão registrada, mas seu possível papel na remoção de lixo não é especificado; os 'varredores' também eram regulamentados, mas estavam aparentemente restritos aos pátios dos templos ou palácios; 'trabalhadores genéricos' podem ter incluído a coleta de lixo entre suas tarefas.
A existência destes grandes monturos (lixões) sugere que havia um local de descarte acordado nessas cidades, mas não podemos afirmar que a coleta de lixo estava entre os serviços municipais oferecidos regulamentados e registrados, pelo menos nos textos encontrados até agora.
Banheiros
Na Suméria o saneamento já era um sistema de duas vias, envolvendo o acesso à água potável e a remoção de resíduos. Poços são ocasionalmente encontrados, como no 3º milênio a.e.c. em Tell Hamoukar, ou no 2º milênio a.e.c. em Tell Asmar. E existem alguns sistemas de drenagem extensivos conhecidos, por exemplo, os tubos de barro horizontais interligados de Habuba Kabira e os drenos de tijolos do Palácio do Norte de Tell Asmar, que removiam a água da chuva dos pátios e as águas residuais dos banheiros.
Mas esses exemplos de abastecimento de água e remoção de águas residuais são limitados a edifícios individuais e não contemplam assentamentos ou mesmo bairros. A aquisição de água potável e a remoção de resíduos, ainda mais do que a eliminação do lixo, eram aparentemente responsabilidade de cada família.
Os banheiros de edifícios, templos e palácios, possuíam sistema de esgoto e incorporavam poços de drenagem cilíndricos com colunas de anéis de cerâmica interligados. Esses banheiros são conhecidos pelo menos desde o início do terceiro milênio a.e.c. e estão bem representados em Ur, Abu Salabikh, Nippur e Diyala. Os banheiros tinham piso de terra, reboco, coberto com betume ou pavimentado com tijolos cozidos; a abertura do dreno variava de um simples furo a um assento embutido.
A tecnologia dos banheiros da Mesopotâmia era simples, mas não era para todos. Apenas nobres tinham condições de ter e por isso, a adoção dos banheiros era relativamente baixa. Onde houve exposição e crescimento significativo dos bairros de algumas cidades Mesopotâmicas, como Nippur ou Ur, no segundo milênio a.e.c., menos da metade das casas tinha banheiros.
Estudos modernos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, sugerem que 75% de um assentamento precisa de saneamento básico para ter um impacto positivo na saúde humana; nenhum bairro conhecido da Mesopotâmia atingiu essa intensidade de cobertura.
Além disso, a drenagem do banheiro deve remover os resíduos à distância e, de preferência, escondê-los no subsolo. Algumas fossas sanitárias da Mesopotâmia tinham apenas alguns metros de profundidade; outra variedade de banheiros tinha ralos de canos inclinados que corriam pelas paredes e esvaziavam do lado de fora.
Ao ouvir sobre sumérios imaginamos cidades perfeitas, bem-sucedidas, como formas de assentamento que assumimos terem fornecido condições de vida geralmente positivas no passado.
Mas devemos reconhecer que não era tudo tão perfeito assim. No contexto sumério, as cidades que mais adotaram a eficiência econômica, a segurança e as redes sociopolíticas, também sofreram com condições de vida abaixo do ideal, particularmente no que diz respeito á grande maioria da população, as pessoas comuns, não nobres.
Bibliografia
Augusta McMahon - Trash and Toilets in Mesopotamia
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