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O Mistério nada Misterioso: Nativos Americanos - Por que os Olhos Puxados e Como Chegaram Aqui

Análise Genética das Descendências dos Povos Originais das Américas: Um Estudo das Populações da América do Norte, Central e do Sul e suas Origens.

O que pouco é refletido é sobre o fato da migração humana pela Beringia ter levado no mínimo 5mil anos. Ou seja, houve tempo suficiente para que uma nova segmentação étnica acontecer na reprodução humana durante esse tempo antes de chegar ao continente Americano.


Com a proposta de oferecer uma visão abrangente das descendências genéticas dos povos originais das Américas, esse artigo vem com base em estudos genéticos conduzidos em populações nativas da América do Norte, Central e do Sul, tentar elucidar dúvidas que perduram o imaginário de muitos pesquisadores e curiosos pelo mundo: de onde vieram as populações americanas e por que há tanta gente de olhos puxados entre as etnias nativo americanas?

Toda a area em amarelo era solo gelado que perdurou por milênios antes se submergir com os aumentos dos níveis oceânicos.


E a ferramenta que vem revolucionando o campo da pesquisa histórica nesse sentido é a análise genética, desempenhado um papel fundamental na compreensão da diversidade genética desses povos originais ao longo dos séculos.


Abaixo há as principais descobertas e tendências genéticas observadas em diferentes regiões e ramos dos estudos mais recentes na área, revelando as interações históricas, migrações e adaptações que moldaram a herança genética dessas populações. Além disso, destaca-se o trabalho da geneticista Tábita Hunemeier e suas contribuições recentes para o campo.

Teoria mais aceita atualmente envolve um complexo processo mapeado através de fósseis e datação. Rastros dos humanos do passado caminhando para nosso presente.


Para se ter uma compreensão melhor do que é, primeiro será necessário explanar sobre o “como”:

BERINGIA: a massa territórial, a ponte que permitiu o estabelecimento humano na região e posterior movimento migratório para as Américas mediante o aumento dos níveis dos mares e derretimento das camadas geladas que sustentavam a estrutura.


A colonização das Américas pelos seres humanos começou há milhares de anos, e descoberta após descoberta, o período retroage mais e mais. O que há comprovações gira entre 15 a 45 mil anos atrás, sendo o período largamente aceito de 15 mil anos, antes do Young Dryas, e é exatamente nesse momento da história humana quando as populações indígenas originárias de várias regiões da Ásia migraram para o continente Americano através da ponte terrestre de Beringia, onde muitos aprender nas escolas como estreito de Bering, que é um estreito onde hoje liga os oceanos Pacífico e Ártico, entre a Rússia e os Estados Unidos; sendo o mar de Chukchi, ao norte, com o mar de Bering, ao sul. O que pouco se discute e já é resultado dessas análises genéticas mais recentes é: a migração não foi rápida, tento as primeiras populações migratórias da Asia para as Américas permanecido na região gelada da ponte glacial da Beringia durante mais de 5 mil anos, e criando um grupo genético bem diferente dos asiáticos, e apenas após esse período, com o derretimento e submersão da ponte de gelo e aumento dos níveis dos mares, que de fato as primeiras populações oriundas dessa migração de fato entraram nas Américas.


Desde então, essas populações disseminaram, vivendo concentradas nas regiões do Alasca e atual Canadá, desenvolveram culturas distintas e estabeleceram-se posteriormente em diversos ecossistemas, gerando assim grupos étnicos e linguísticos únicos ao passar dos milênios, culturas e desenvolvimento tecnológicos impares entre si e o mundo antigo.


Hoje através de avanços tecnológicos na análise genética, podemos investigar as histórias migratórias, a estrutura populacional e os padrões de mistura genética que moldaram as populações nativas das Américas.

https://www.pnas.org/doi/epdf/10.1073/pnas.1620541114


Acompanhe o elencado abaixo:

América do Norte

Os povos indígenas da América do Norte são altamente diversificados em termos linguísticos e culturais, refletindo uma história complexa de migração, separação e reinteração. Os estudos genéticos revelaram que as populações originais do norte da América do Norte compartilham ancestrais comuns com populações siberianas, indicando sua origem asiática comum (Raghavan et al., 2015; Moreno-Mayar et al., 2018), não distante tendo características físicas marcantes, tal como a gordura extra subcutânea nas pálpebras, o que gera os famosos olhos puxados, tão familiares e característicos dos povos asiáticos atualmente. No entanto, a diversidade genética observada nas populações indígenas norte-americanas também sugere migrações subsequentes e interações com outros grupos (Kistler et al., 2017). Além disso, estudos genéticos têm identificado adaptações específicas em genes relacionados à dieta, metabolismo e resposta imunológica em populações nativas do norte (Fumagalli et al., 2015).


América Central

A América Central foi um ponto crucial de encontro e intercâmbio entre as civilizações mesoamericanas, como os maias e astecas. Os estudos de fundo genético desencadearam resultados excepcionais e têm revelado uma mistura complexa de ancestrais nativos e europeus dentre a populações da América Central. Os padrões genéticos indicam uma contribuição genética significativa dos povos indígenas mesoamericanos para as populações modernas, mas também uma influência substancial da colonização europeia (González-Martín et al., 2019; Lindo et al., 2020). Além disso, evidências genéticas sugerem contribuições adicionais de grupos do norte da América do Sul e do Caribe (Mendizabal et al., 2018), provando assim que a distância e rivalidade tribal não foram obstáculo para esse intercambio entre etnias durante alguns momentos nos séculos passados.


América do Sul

Peculiar e diferente do que muitos conhecem, ou não, a América do Sul abriga uma das maiores diversidades genéticas humana do mundo, refletindo a complexidade da história populacional da região, e não podendo ser simplificada por pesquisas rasas feitas pelas internet afora ou em vídeos de 30 segundos espalhados pelo oceano da web. Os estudos genéticos têm identificado ancestrais comuns entre as populações indígenas sul-americanas e as populações nativas da América do Norte e Central, indicando migrações pré-colombianas em larga escala (Reich et al., 2012; Llamas et al., 2016). No entanto, a América do Sul também foi palco de civilizações antigas altamente desenvolvidas, tal como os Incas e os povos da Amazônia, que tiveram impacto na diversidade genética da região (Valverde et al., 2018; Harris et al., 2018). A colonização europeia trouxe uma mistura adicional de ancestrais, resultando em uma complexa paisagem genética nas populações ameríndias da América do Sul (Rodrigues-Carvalho et al., 2020).


Essa complexidade acarreta muito mais história aos caminhos tortuosos civilizatórios que os nativos originais tiveram e que viveram por milênios na América do Sul. Uma história não escrita, no caso dos povos viventes nas regiões onde hoje se encontra o Brasil, e passada de geração em geração em forma de cantigas e tradições orais, poluindo em forma de lendas e mitos, criando fantasias para explicar o desconhecido e atravessando o tempo até os dias atuais.


Reforços de Tábita Hunemeier

A geneticista Tabita Hunemeier, especializada em estudos genéticos de populações indígenas das Américas, pesquisadora pelo Instituto de Biociência da USP, tem contribuído significativamente para o campo dos estudos históricos por meio dos resultados de suas pesquias e as equipes que cooperam com ela. Seu trabalho recente focou na análise genética das populações amazônicas, revelando informações importantes sobre a diversidade genética, migrações e adaptações desses grupos (Hunemeier et al., 2021).

Um dos destaques é a influência de fatores genéticos na resistência a doenças tropicais e na adaptação a ambientes específicos da Amazônia (Hunemeier et al., 2020). Além disso, suas pesquisas têm fornecido insights sobre a história populacional da região, incluindo a contribuição de ancestrais pré-colombianos e a influência da colonização europeia na miscigenação étnica (Hunemeier et al., 2018). De suas pesquisas, os frutos também apontam curiosos resultados, tal como tribos nativas isoladas com baixa mistura genética e têm descendentes de povos da Oceania, reforçando talvez as propostas de contato transoceânico em momentos da história das Américas que os meios de ensino ainda não têm evidências suficientes para maiores declarações.


Panorama do Brasil

A história tradicionalmente ensinada nas aulas de história é que os primeiros indivíduos que chegaram às Américas vieram pelo Estreito de Bering, passando da Sibéria para o Alasca, então descendo até a Patagônia. No entanto as pesquisas recentes mostraram que o povoamento das Américas é muito mais complexo do que se imaginava de acordo com a Tábita, a ideia de uma única entrada, ou seja, que houve a disseminação populacional das Américas apenas através de um único grupo de seres humanos que chegou às Américas e deu origem a todas as populações indígenas: caiu por terra absolutamente.


As pesquisas sugerem que houveram vários trajetos diferentes em vários momentos distintos para o povoamento do continente, no entanto a maioria dos especialistas concorda que os primeiros habitantes do continente americano, provavelmente chegaram por meios de fluxos migratórios da Ásia através da região conhecida como Berinje, tal como citado acima. Com a estimativa de ter durado de 5 a 10 mil anos, após mudanças nas condições climáticas ocasionando a inundação da Berinje, essas populações foram forçadas a sair da região e se dirigiram para o que hoje conhecemos como Alasca e Canadá.


Além disso as terras Americanas ofereciam mais recursos, tal como caça e alimentos, o que pode ter proporcionado uma motivação adicional para a migração em relação aos índios do Brasil, haja vista a biodiversidade e disponibilidade alimentar para povos de caçadores e coletores. Talvez até um fator que auxiliou ao não desenvolvimento de característica de povos construtores de monumentos megalíticos, tal como se deu em outras regiões das Américas. O clima de disponibilidade hídrica auxiliaram nisso.


O imigrantes para as terras brasileiras pertenciam a diversas tribos e culturas diferentes, cada uma com suas próprias características e tradições, no entanto todos eles compartilhavam uma forte ligação com a natureza e com os recursos naturais do país.


As pesquisas sobre a origem dos índios no Brasil também revelaram uma descoberta interessante: algumas populações nativas da América do Sul como os Suruí, os Caritiana, região da atual Rondônia, os Xavante, os Guarani, Caiuá no Brasil e os nativos do Peru ainda trazem no Genoma uma pequena semelhança com povos da Austrália e da Oceania, compartilhando até 3% do seu genoma. Isso sugere que esses indivíduos fazem parte de uma das primeiras levas que cruzaram a Beringia, cerca de 15 mil anos atrás. E esse fator é algo que derruba a hipóteses da divisão e não-contato entre os povos Amazônicos e dos Andes. Esse grupo antepassado é conhecido entre os cientistas como a população Y, mas não há evidência de que os povos da Oceania cruzaram Pacífico e chegaram diretamente à América do Sul. O que muito provavelmente aconteceu, segundo os dados mais recentes, é que essa migração ocorreu para a Ásia, e depois para a Beringia, e lá ele se relacionaram com as populações que já haviam no local e uma fração do DNA desses indivíduos se preservou até hoje.


Por muito tempo acreditou-se que as dinâmicas populacionais eram muito diferentes na América do Sul, por um lado haviam grandes populações conectadas nos Andes e que teriam dado origem a impérios, tal como os Incas. Do outro lado, acreditava-se que os povos da Amazônia eram pequenos e isolados, subdesenvolvidos, só que esses resultados dos últimos 5 anos, mostraram que essa teoria não se sustenta mais. Biólogos como o Marco Araújo Castro e Silva que faz parte da equipe do Instituto de Biociência da USP, descobriram que a diversidade genética dos habitantes da Amazônia é muito maior do que se pensava, o que sugere que existiam grandes populações na região com milhões de Indivíduos, corroborando com as crônicas dos exploradores espanhóis que viam ao Brasil nos primeiros anos do descobrimento e narravam esses milhões de pessoas em cabanas à beira d’água nos rios que as embarcações conseguiam navegar. Claro, populações que não estariam ali anos depois no retorno em massa dos portugueses e espanhóis, pois foram dizimadas pelas doenças das quais os nativos não tinham imunidade natural e foram deixadas involuntariamente pelos exploradores.


Além de sugerir a existência de grandes populações na Amazônia, os estudos genéticos também vão ao encontro de outras áreas do conhecimento, tal como arqueologia. O arqueólogo Eduardo Góes Neves, também do núcleo de estudos da USP (Universidade de São Paulo), estima que antes da chegada dos europeus a Amazônia abrigava entre 8 e 10 milhões de pessoas.


Outro ponto interessante é que esses estudos também desmontam o mito da divisão Andes-Amazônia, que sugeria que os povos que habitavam essas duas regiões não se relacionavam: as análises genéticas mostram que isso não apenas é errado, como também essas populações interagiam bastante.


Outra descoberta revelada e também bastante importante para a história dos povos indígenas no Brasil é a chamada expansão Tupi. De acordo com os pesquisadores essa foi uma das maiores migrações da história da humanidade, onde os povos Tupis saíram do Noroeste da Amazônia e viajaram mais de 4.000 km para várias partes da América do Sul, em um período que durou mais ou menos mil anos. Essas populações Tupi estavam em franco crescimento e viajavam ao longo dos rios, e/ou da costa litorânea, provavelmente em busca de terras férteis para agricultura. Este fenômeno teria começado há cerca de 2.100 anos e atingiu seu pico no ano 1000, quando a população Tupi poderia até chegar entre 4 a 5 milhões de indivíduos. Antes acreditava-se que essa onda migratória tinha acontecido por uma única rota, mas os trabalhos e estudos genéticos da USP mostraram que a expansão se iniciou no Noroeste amazônico e logo no início se desmembrou.


Entre as principais teorias, a mais aceita é de que os índios brasileiros vieram de três grupos diferentes de imigrantes: a primeira parte seguiu até Ilha de Marajó, no Pará, e desceu pela Costa do Atlântico até o litoral sul de São Paulo. Nessa jornada deram origem aos Tupinambá, que se tornaram e senhores da Costa litorânea e fizeram os primeiros contatos com os portugueses.


Um segundo grupo, na região do Paraguai deu origem aos Guarani, e já o terceiro grupo seguiu para o Oeste na região da fronteira entre Brasil e peru.


É importante destacar que essa sociedades indígenas não tinham acesso à metalurgia, os exércitos organizados se locomoviam em grandes grupos e conforme encontravam outros indivíduos lutavam e/ou desviavam seu caminho. Apesar da dominação dos Tupis sobre outros grupos indígenas, os pesquisadores explicam que a situação mudou com o tempo e uma evidência disso veio da Amazônia peruana, onde é possível encontrar o povo cocama, que há gerações fala Tupi, no entanto análises do DNA de integrantes dessa população mostra que eles são muito mais semelhantes geneticamente com os shamekuro que são seus vizinhos e falam a língua arauak. Isso sugere que eles adotaram a língua tupi, mas geneticamente são mais próximos de outro grupo.


Essa assimilação cultural pode ter ocorrido a partir da expansão Tupi e que corrobora com algo que já foi sugerido por estudos de outras áreas: a Ascensão dos Tupis foi seguida por uma queda vertiginosa, e outros grupos indígenas passaram a dominar a região, mas ainda assim a influência Tupi continua presente muitas áreas com a língua e até apropriação cultural.


Por fim, mas não menos importante a análise genética das populações indígenas das Américas tem revelado uma riqueza de informações sobre as migrações, adaptações e misturas étnicas e culturais que ocorreram ao longo dos séculos no solo americano, o que unindo a multidisciplinaridade enriquecerá livros de história, ciências e biologia. Através desses estudos, podemos apreciar a diversidade genética das populações originais das Américas e sua contribuição para a riqueza cultural, e histórica, do continente, desvendando assim mistérios que saem do ramo da especulação e passam a ter fortes evidências, apoiando as hipóteses segundo o método científico. O trabalho da geneticista Tábita Hunemeier e de sua equipe de pesquisadores, assim como muitos outros, tem desempenhado um papel fundamental na ampliação do conhecimento sobre as populações nativas americanas e no entendimento de fatores genéticos que moldaram sua história única das Américas.

Por: Maik Bárbara



Referências Bibliográficas

Fumagalli, M. et al. (2015). Greenlandic Inuit show genetic signatures of diet and climate adaptation. Science, 349(6254), 1343-1347.


González-Martín, A. et al. (2019). Genomic insights into the origin and diversification of late maritime hunter-gatherers from the Chilean Patagonia. Proceedings of the National Academy of Sciences, 116(25), 12463-12468.


Harris, D. N. et al. (2018). Evolutionary genomic dynamics of Peruvians before, during, and after the Inca Empire. Proceedings of the National Academy of Sciences, 115(28), E6526-E6535.


Hunemeier, T. et al. (2018). Genetic signatures of population remnants expected in a scenario of demographic contraction followed by expansion. Heredity, 121(3), 250-262.


Hunemeier, T. et al. (2020). Malaria and adaptation to climate change: A long-term study in indigenous Amazonian populations. Human Biology, 92(3), 231-241.


Hunemeier, T. et al. (2021). Reconstructing Native American migrations in the Amazon and the role of environmental factors. Molecular Biology and Evolution, 38(3), 1069-1082.


Kistler, L. et al. (2017). Genetic diversity in the desert: insights from the genome of the rice grass Achnatherum calamagrostis (Poaceae). Proceedings of the National Academy of Sciences, 114(10), 2316-2321.


Lindo, J. et al. (2020). A time transect of exomes from a Native American population before and after European contact. Nature Communications, 11(1), 1-12.


Llamas, B. et al. (2016). Ancient mitochondrial DNA provides high-resolution time scale of the peopling of the Americas. Science Advances, 2(4), e1501385.

2 Comments


Elisabete Camara
Elisabete Camara
May 29, 2023

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almanaquearqueohis
almanaquearqueohis
May 29, 2023
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