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O Papiro Mais Antigo já encontrado, Menciona a Grande Pirâmide de Gizé

Atualizado: 1 de nov. de 2023


Diary of Merer - O Diário de Merer


Hoje em dia, sabemos como as pedras foram transportadas para construir as pirâmides do Egito, graças à descoberta de um papiro, em algumas cavernas de armazenamento de barcos no Mar Vermelho.

Como já dito, este estudo estará complemento meu artigo na segunda edição da revista ArqueoHistória, pois o mesmo ficaria muito longo, caso todas as evidências e descobertas fossem detalhadamente citadas. Em resumo, você tem tudo que precisa para chegar á sua conclusão no artigo da revista, mas o presente estudo estará solidificando ainda mais.

No final do século passado, o pesquisador Pierre Tallet fez uma descoberta impressionante: um conjunto de 30 cavernas escavadas em colinas de calcário, seladas e escondidas em uma parte remota do Egito, a poucos quilômetros do Mar Vermelho, longe de qualquer cidade, antiga ou moderna.

"Habor of Tura" - Portos de Tura, local onde foi encontrado o Diário de Merer.

Durante sua primeira temporada de escavações, em 2011, ele constatou que as cavernas serviram como uma espécie de depósito de barcos durante a quarta dinastia do Império Antigo, há cerca de 4.600 anos. Então, em 2013, durante sua terceira temporada de escavações, ele se deparou com algo bastante inesperado: rolos inteiros de papiro, alguns com alguns metros de comprimento e ainda relativamente intactos, escritos em hieróglifos e hieráticos, a escrita cursiva que os antigos egípcios usavam no seu dia a dia.

Os papiros são do início da 4ª dinastia, por volta de 2.586-2540 a.e.c., e fazem parte do diário de bordo do Inspetor Merer, que os escreveu com suas próprias mão, utilizando uma caneta de cana. É, de fato, não só o papiro inscrito mais antigo que cita a Pirâmide de Quéops, mas o mais antigo em geral, já encontrado no Egito. Sabemos exatamente a data de sua confecção, pois Merer a registro ao final do Diário de Bordo: "Largamos no 4º dia do ano 27 do reinado de Khufu, quando a pirâmide estava sendo terminada e seu invólucro externo sendo colocado".

Conhecido como o Diário de Merer, o documento nos informa que Merer era um dos muitos inspetores encarregados de controlar as equipes de operários que trabalhavam na construção da pirâmide em geral, tanto nas pedreiras em Tura, quanto nos barcos, trazendo, descarregando e empilhando os blocos. Merer informa no documento que estava responsável por uma equipe de 200 homens, em 5 barcos ao todo.

Menciona diversas paradas em Tura, uma cidade ao longo do Nilo, famosa por sua pedreira de calcário. Merer registra ter enchido seu barco com blocos de calcário e subido o rio Nilo até Gizé diversas vezes. No documento, Merer menciona se reportar ao "nobre Ancafe" (Ankh-haf), que sabe-se ter sido o vizir e supervisor des obras do faraó Quéops (Khufu), bem como seu meio irmão.

Diário de Merer - Papiros 3,4,6,9, respectvamente.

Hoje em dia, sabe-se muito bem que o calcário Tura foi utilizado para o invólucro externo das pirâmides, e o diário de Merer registra o ano 27 deste evento. Note que a falácias de que a pirâmide teria levado 20 anos parar ser construída, não corrobora com o escrito por aquelas que realmente viveram naquele local, e trabalharam naquela construção.

Ao longo da face do penhasco em que os antigos galpões para barcos ficavam localizados, você pode ver os contornos de um conjunto de antigos hieróglifos egípcios esculpidos delicadamente na pedra. Há o selo real de Mentuhotep IV, um faraó pouco conhecido que governou por apenas dois anos, em cerca de 2.000 a.e.c.

Logo abaixo há três linhas de uma inscrição hieroglífica mais antiga, que Tallet traduz: "Akhet-Khufu", sendo atrás destas paredes que estavam as cavernas que continham o Diário de Merer. Ao traduzir, não restavam mais dúvidas de que aquela era sessão da pedreira dedicada á construção da Pirâmide de Queóps.

Embora algumas páginas Diário de Merer estejam relativamente conservadas, outras estão destruídas ou fragmentadas e muito de seu conteúdo não pôde ser lida. Independentemente disso, grande pode ser vislumbrada e traduzida. Traremos a tradução posteriormente neste estudo.

O papiro contém o "akhet-khufu" diversas vezes, marcamos no quadrado vermelho o trecho mais legível em que você pode identifica-lo duas vezes na mesma sentença.

Akhet era o termo utilizado pelos egípcios para referir-se ao que conhecemos como “horizonte”, mas não do jeito que conhecemos. O horizonte, ou akhet para os egípcios era o local em que o faraó sofria a transformação em “AKH” que como sabemos, era a união da essência física com a espiritual, tornando-se assim um tipo de entidade superior, nem viva nem morte, apenas existente.

O próprio termo “akhet” começa com os correspondentes “akh”, é bem lógico não? Em resumo, o Akhet era o local onde o faraó seria “depositado” depois dos rituais fúnebres, para seguir em sua jornada pós morte e ao final, tornar-se um akh, uma entidade eterna. É bem claro que até o nome das pirâmides indica seu propósito fúnebre. Já sabia-se que Akhet-Khufu era o nome da grande pirâmide para os antigos egípcios, mas encontrar outras inscrições que o mencionam solidifica ainda mais esta evidência.

Após a explosão da descobertas diversos especialistas na língua egípcia, das mais renomadas universidade do mundo se interessaram pelo conteúdo do papiro e se empenharam em traduzi-lo. Hoje em dia, temos a tradução completa do conteúdo (o que estava legível), e como veremos, o nome da Pirâmide de Quéops é citado não só uma, mas dezenas de vezes no texto.

Antes de passarmos a tradução, precisamos conhecer os termos She Khufu e Ro-she, também citados diversas vezes no papiro. “Akhet-Khufu” é a Grande Pirâmide, o “Horizonte de Khufu”, como já citado.

She Khufu” significa “Regência de Khufu”, sendo o território onde ficava o centro administrativo da construção da Grande Pirâmide, um tipo de " complexo de escritórios" de onde saiam as ordens e listas e períodos dos trabalhadores da construção.

Ro-She Khufu”, significa a “entrada da regência de Khufu”, que era a sede da administração do projeto da pirâmide, de onde saiam as ordens de demanda de materiais para a construção. Ancafe (Ankhhaf) ,meio-irmão de Quéops e encarregado de obras, era o responsável pelo gerenciamento de Ro-she Khufu. Em resumo: Akhet khufu = Grande Pirâmide, She Khufu = centro dos trabalhadores e Ro She Khufu = centro de demandas.

Agora que conhecemos os termos, vamos ao que interessa, a tradução do papiro. Onde você encontrar [...] significa que o termo não pôde ser lido, ou por ter sido perdido, ou por estar incompleto.

- Diário de Merer - Papiro A

"Dia 1: […] passar o dia […] em […].
Dia 2: […] passar o dia […] em […].
Dia 3: Rejeitar? o palácio real? [...] navegando rio acima em direção a Tura. Passa a noite lá.
Dia [4]: ​​Partimos de Tura, navegamos pela manhã rio abaixo em direção a Akhet-Khufu, passa a noite e volta a Tura pela manhã.
[Dia] 5: Partimos de Tura à tarde, navegamos em direção a Akhet-Khufu.
Dia 6: Parte de Akhet-Khufu e navega rio acima em direção a Tura […].
[Dia 7]: Larga pela manhã de […]
Dia 8: Partimos de Tura pela manhã, navegamos rio abaixo em direção a Akhet-Khufu, passamos a noite lá.
Dia 9: Partimos pela manhã de Akhet-Khufu, navegamos rio acima; passamos a noite.
Dia 10: Partimos de Tura, atracamos em Ro-she Khufu. Vem de onde […] as novas equipes de operadores.
Dia 11: O inspetor Merer passa o dia com seu arquivo realizando trabalhos relacionados ao dique de Ro-She Khufu.
Dia 12: O inspetor Merer passa o dia com seu arquivo realizando trabalhos relacionados ao dique de Ro-She Khufu.
Dia 13: Inspetor Merer passa o dia com […] o dique que está em Ro-She Khufu por meio de 15[...] novas equipes.
Dia [14]: [Inspetor] Merer passa o dia seu arquivo realizando trabalhos no dique em/de Ro-She] Khufu.
[Dia] 15 […] em Ro-She Khufu
Dia 16: Inspetor Merer passa o dia […] em Ro-She Khufu com o nobre Ancafe.
Dia 17: O inspetor Merer passa o dia […] levantando as estacas do dique[…].
Dia 18: Inspetor Merer passa o dia […]
Dia 19 […]
Dia 20 […] para o leme? [...] as equipes operários.
Dia 21 a 24 [...]
Dia 25: Inspetor Merer passa o dia com arquivo buscando blocos ao sul de Tura. Passa a noite no sul de Tura.
Dia 26: Inspetor Merer parte com seu arquivo Tura [Sul], carregado com pedras, para Akhet-Khufu; passa a noite em She-Khufu.
Dia 27: Zarpa de She-Khufu, navega em direção a Akhet-Khufu, carregado de pedra, passa a noite em Akhet-Khufu descarregando.
Dia 28: Saída de Akhet-Khufu pela manhã; navega rio acima para o sul Tura
Dia 29: O inspetor Merer passa o dia com seu arquivo transportando pedras do sul Tura. Passa a noite no sul de Tura
Dia 30: O inspetor Merer passa o dia com arquivo transportando pedras do sul de Tura; passa a noite no sul de Tura."

-Diário de Merer - Papiro B.

"Dia 1: O diretor Idjeru parte para Heliópolis em um barco-iuat de transporte para nos trazer comida de Heliópolis enquanto a Elite está em Tura.
Dia 2: o inspetor Merer passa o dia com seu arquivo transportando pedras no norte de Tura North; passa a noite em Tura.
Dia 3: O inspetor Merer parte de Tura, navega em direção a Akhet-Khufu carregado com pedras.
Dia 4: […] o diretor Idjeru volta de Heliópolis com 40 sacks-khar e uma grande medida de heqat de pão torrado, enquanto a Elite transporta pedras no norte de Tura.
Dia 5: Inspetor Merer passa o dia com seu arquivo carregando pedras nos barcos-hau da Elite no norte de Tura, passa a noite em Tura.
Dia 6: O inspetor Merer zarpa com um barco da seção naval (gs-dpt) de Ta-ur, descendo o rio em direção a Akhet-Khufu. Passa a noite em Ro-She Khufu.
Dia 7: zarpa pela manhã em direção a Akhet-Khufu, navega em direção a Tura Norte, passa a noite em […]
Dia 8: zarpa de Ro-She Khufu, navega em direção a Tura North. O inspetor Merer passa o dia com um barco de Ta-ur? […].
Dia 9: zarpa de […] de Khufu […].
Dia 10-12: […]
Dia 13: […] She-Khufu […] passa a noite no sul de Tura.
Dia 14: [… ] transportando pedras […] passa a noite em Tura.
Dia 15: Inspetor Merer passa o dia com seu arquivo transportando pedras do sul de Tura, passa a noite em Tura.
Dia 16: o inspetor Merer passa o dia com seu arquivo carregando o barco-imu (?) com pedra navega... rio abaixo, passa a noite em She-Khufu.
[Dia 17: zarpa de She-Khufu] pela manhã, navega em direção a Akhet-Khufu; navega de Akhet-Khufu, passa a noite em She-Khufu.
[Dia 18] […] navega […] passa a noite em Tura .
[Dia 19]: Inspetor Merer] passa o dia [...] transportando pedras do sul de Tura
Dia 20: [Inspetor] Mer[er] passa o dia com [...] Tura, carrega 5 embarcações, passa a noite em Tura.
Dia 21: [Inspetor] Merer passa o dia com seu arquivo carregando um navio de transporte imu em Tura, zarpa de Tura à tarde.
Dia 22: passa a noite em Ro-She Khufu. Pela manhã, zarpa de Ro-She Khufu; navega em direção a Akhet-Khufu; passa a noite nas capelas de Akhet Khufu.
Dia 23: O diretor do 10º Hesi passa o dia com sua seção naval em Ro-She Khufu, porque foi tomada a decisão de largar; passa a noite em Ro-She Khufu.
Dia 24: Inspetor Merer passa o dia com seu arquivo transportando pedras e artesanato com aqueles que estão no registro da Elite, os operários "apes" e o nobre Ankhhaf, diretor de Ro-She Khufu.
Dia 25: Inspetor Merer passa o dia com sua equipe transportando pedras em Tura, passa a noite em Tura.
Dia 26 … navega para […] Khufu"

E por aí vai, existem mais 4 sessões do papiro, todas subsequentemente descrevendo os dias de cada mês a partir do primeiro mês do 27º ano de construção da Grande Pirâmide. Caso se interessem, podemos trazer o restante dos papiros em um outro post.

Certo é que, como podemos ver, não existem aliens, tecnologias avançadas desconhecidas, gigantes ou qualquer outra fantasia proposta por entusiastas, quando se trata da Pirâmide de Quéops. A única coisa fantástica que Merer nos descreve é o trabalho duro, sangue e suor de trabalhadores que passavam meses cortando, carregando, transportando e empilhando os blocos de pedra da construção.

Ignorar tais evidências e procurar outras explicações para perguntas que já tem respostas não faz parte do meio científico, histórico, arqueológico e muito menos profissional no geral. Estude, pesquise, conheça as descobertas já registradas, não é tão difícil quanto se parece, basta procurar nos livros e artigos de profissionais sérios, que realmente atuam na área, não nos que vem de outras áreas passear na história, aproveitando-se da falta de conhecimento da maioria para gerar e disseminar desinformação.


Tallet mostrando o fragmento C do Diário de Merer.

Bibliografia:

How the Great Pyramid was Built - Craig B. Smith

The Red Sea Scrolls: How Ancient Papyri Reveal the Secrets of the Pyramids - Mark Lehner & Pierre Tallet

Les Papyrus De La Mer Rouge: Le Journal De Merer - Pierre Tallet



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