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  • Foto do escritorMaik Bárbara

Os MAIAS e suas DROGAS RITUAIS

OS MAIAS E OS POVOS INDÍGENAS DO MÉXICO E DA AMÉRICA CENTRAL TINHAM ACESSO A SUBSTÂNCIAS ALUCINÓGENAS CHAMADAS ENTEÓGENOS, UMA FORMA DE PSICODÉLICOS QUE ERAM USADOS ​​PARA PROVOCAR UM ESTADO ALTERADO DE CONSCIÊNCIA DURANTE RITUAIS E CERIMÔNIAS ESPIRITUAIS.


Os objetivos dessas substâncias era atingir um estado de desorientação temporal e espacial, trazendo ao usuário uma sensação de paz interior e de união com a natureza e, principalmente, com os deuses.


O consumo de enteógenos nas Américas pode ser rastreado até a era olmeca, no entanto, nossa compreensão do uso de enteógenos maias é melhor informada graças a textos religiosos maias, como o Popol Vuh e relatos espanhóis do século XVI.


O Uso de Enteógenos entre os Maias:

Durante as cerimônias maias costumava ser feito no subsolo ou em cavernas. Estes eram considerados pontos de acesso sagrados ao conceito de submundo que valorizavam durante boa parte de sua organização cultural e social. Pontos pensados ​​para intensificar a visão interior, proporcionando um ambiente favorável para o contato com o mundo espiritual.

Um dos enteógenos maias mais comuns é uma bebida narcótica chamada balché.


Balché: A Bebida Inebriante dos Maias:

Um elixir infundido com a casca da leguminosa embebida em mel, água e depois fermentada para dar à bebida um teor alcoólico suave.


"A natureza é o melhor professor, e você precisa se tornar um estudante atento." Carlos Castaneda

O balché era usado principalmente em cerimônias de comunhão com os elementos e espíritos para prever ou entender eventos naturais, porém que escapavam do conhecimento comum ou tecnológico da época, ou seja, na antiguidade, se não era explicado então uma deidade fazia o papel do motivo pela coisas, tal como colheitas ruins, doenças e o resultado de guerras.

Devido ao baixo teor alcoólico, o balché era consumido em grandes quantidades para induzir o vômito, que por sua vez era recolhido em saquinhos e pendurado no pescoço do usuário.


Chih: A Bebida Associada à Deusa Mayaheul:

Chih era outra bebida alcoólica feita pela fermentação da seiva da planta maguey. Seiva essa que tinha a conotação cosmogônica associada ao sangue de Mayaheul, a deusa do maguey. Diferentes obras de cerâmica do Período Clássico Maia produziram vasos marcados com o glifo 'chi'. Referências ao uso da bebida também aparecem nos códices de Dresden, Borgia, Florentine e Borbonicus.


O papel do Tabaco e do Fumo Silvestre:

O fumo silvestre (Nicotiana rústica), que os maias chamavam de piziet, também era usado para dar visões e minimizar a dor causada pelo auto-sacrifício. Ou seja, a ideologia do sacrifício humano, cujo significado era baseado na noção de dívida é exposta e explicada pelo autor Michel Graulich, diretor de estudos religiosos na Escola de Altos Estudos de Paris. Ele expõe que na sociedade maia todos aqueles que tinham algum tipo de débito pagavam com o auto-sacrifício, ou com o próprio sangue.


"A experiência do fumo do tabaco me lembrou a primeira experiência com o ácido lisérgico". Aldous Huxley

De forma simplificada: O Jogo da Pelota era composto por dois times onde apenas com o uso do quadril poderia rebater uma bola maciça feita de borracha e tentar passá-la por um aro lateral de pedra no alto de uma parede. O time que perdia era sacrificado. Pagava sua dívida com a morte em oferenda para os deuses.


O tabaco contém o alcaloide nicotina que afeta o sistema nervoso e pode ser mastigado, inalado ou misturado com as folhas de Datura para aumentar o efeito alucinógeno, e anestesiar, ótimos efeitos para alguém demandado a participar do Jogo mortal da Pelota, onde os perdedores pagavam a derrota com a própria vida.



Injeção de Drogas e o Tabu:

Líquidos e gases costumavam ser usados ​​para enemas, procedimento em que a substância era injetada no reto do usuário por meio de um tipo de seringas avantajadas feitas de cabaça e argila, o local de introdução foi escolhido para potencializar e intensificar o efeito da droga. O que em tempo atuais, chega a ser um tabu inserir quaisquer coisas pelos mais variados objetivos na saída anal como eles praticavam o uso da droga.

Crédito pela Imagem: Alamy Representação em argila do momento da injeção dos alucinógenos por um tipo de seringa rustica dentro do reto.


A evidência arqueológica nos fornece produtos cerâmicos que retratam imagens nas quais enemas psicodélicos foram utilizados em rituais; algumas figuras estão vomitando enquanto outras recebem enemas.

As pinturas em vasos de cerâmica do Período Clássico Maia mostram potes transbordando de espuma de bebidas fermentadas, retratando indivíduos enquanto recebem enemas. Várias descrições do período colonial (como o Codex florentino) também descrevem como os enemas eram usados ​​para combater doenças e desconforto do trato digestivo.


Cogumelos Alucinógenos e Outras Plantas:

Cogumelos alucinógenos conhecidos pelos maias como k'aizalaj okox eram frequentemente consumidos em cerimônias rituais. Os cogumelos foram comidos na forma de cogumelos frescos, não cozidos, ou como cogumelos secos em pó que contêm compostos enteogênicos separados, psilocibina e psilocina, o que faz com que o usuário experimente alucinações visuais. Artefatos chamados de “pedras de cogumelo” também apontam para o consumo de cogumelos por um culto maia e acredita-se que estejam associados à decapitação humana, à guerra e ao jogo de bola mesoamericano.

Outra flora, como a Nymphaea ampla, causa efeitos semelhantes aos opiáceos no usuário e é conhecida por ter sido usada como calmante e indutor de transe leve pelos maias, enquanto a planta Ololiuqui contém sementes com diferentes alcalóides da família LSD que dá visões alucinógenas quando moídas em pó e depois misturado em uma bebida de cacau.


O Uso de Sapos e Outras Substâncias:

Um dos enteógenos mais incomuns empregados pelos maias era derivado da pele e das glândulas parótidas de diferentes espécies de sapos, tal como as tribos amazonenses usaram por séculos também, mas por vezes com o intuito de caça e pouco para recreação ou cunho religioso.

Os cronistas que perambularam pelas Américas durante o descobrimento e voltaram à Europa no século 16, documentam que os maias uniam o tabaco e as peles do sapo comum, Bufo marinus, à bebidas como o balché, e isso resultado em potência ampliada do alucinógeno.

Vários deuses e deusas podem ter nascido dessas mentes embriagadas e alucinadas.


Em suma, os Maias tinham um profundo conhecimento sobre o uso de enteógenos e sua relação com o mundo espiritual. Tudo usado durante seus rituais e cerimônias para alcançar estados alterados de consciência e estabelecer uma conexão com os deuses.

Graham Hancock, por mais controverso que seja e não utilizando o método científico para comprovar suas hipóteses, ainda é um ótimo escritor e proferiu o seguinte pensamento:


"A experiência psicodélica pode ser um caminho para a experiência mística".

Sugerindo assim a velha encruzilhada: o ovo ou a galinha, quem veio primeiro?

Ou seja, o alucinógeno é a causa dos deuses, ou os deuses para se comunicar inspiram os humanos a entrarem em estados mentais que apenas daquela forma poderão se comunicar, tamanha a diferenças entre as criaturas e seus criadores?


Famigerada frase do pensador Friederick Nietzsche


Bom, se o ovo veio primeiro, haja vista que na época dos dinossauros as aves nem existiam, mas os ovos fossilizados estão aí para antecipar milhões de anos de antecedência dos ovos, e até dos primeiros parentes das atuais galinhas, então logo, o alucinógeno não sendo algo exclusivo da cultura maia para fazer contato com os deuses, temos um resultado um tanto esperado: o estudo dos hábitos e drogas rituais dos Maias nos permite entender melhor sua cultura e espiritualidade, revelando uma faceta importante da sua sociedade ancestral, criando parâmetros para compreendermos a ordem primária das coisas em mais um povo antigo e extinto em suas crenças – o homem continuava a fazer deuses à sua imagem e semelhança, e não vice-versa.


Por Maik Bárbara

@HipoteseZero


Fontes:

Peter A.G.M. de Smet, Nicholas M. Hellmuth, A multidisciplinary approach to ritual enema scenes on ancient Maya pottery, Journal of Ethnopharmacology, Volume 16, tópicos 2 - 3, June 1986, páginas 213-262.


Huxley, Aldous, As portas da percepção, livro de 1954.

1 Comment


Edson Exs
Edson Exs
Jul 01, 2023

Excelente estudo


Ainda tenho parentes no interior do Pará que aí da fumam tabaco .


Bom final de semana

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