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Foto do escritorEdson Almeida

REVISIONISMO BÍBLICO, CORROBORAÇÕES E CONTRADIÇÕES - PARTE II


A grande maioria das pessoas conhece as famosas histórias bíblicas, o que faz do cristianismo a maior religião vigente do mundo atual. Mas será que os textos bíblicos são amparados por algum tipo de evidência, seja arqueológica ou historiográfica?

Esta é a segunda parte do artigo "REVISIONISMO BÍBLICO, CORROBORAÇÕES E CONTRADIÇÕES", parar estar contextualizado(a) sobre o assunto, leia a primeira parte:

"Sendo assim, a frase “Abraão, o hebreu” (Gn. XIV, 13) se trata de um acréscimo posterior, que de forma alguma pode ser considerado original. Aliás, todas a passagens que mencionam as façanhas de Abraão são passíveis de dúvida, e é possível que muitos desses textos sejam alegorias extrapoladas, com origens em histórias de outros povos mais antigos, como já demonstramos aqui. Usaremos como exemplo apenas a guerra dos quatros reis contra as cinco cidades do Vale de Sidim, ao extremo sul do mar morto."

Último parágrafo da parte I

Acontece que historicamente, tal fato se mostra impossível, uma vez que, ao que se sabe, ao longo daquele período, Elam jamais se envolveu em campanha militar tão distante ao sul, por consequência disso, a passagem envolvendo Abraão e Elam nessas terras é passível de dúvida. É bem provável que o autor dessa história tenha se baseado em textos assírio-babilônicos, que falam de batalhas naquelas distantes terras, porém, pareceu tentador aos redatores bíblicos fazer de Abraão também um grande herói e chefe militar.

Então, quem realmente eram Abraão e os pastores bíblicos descritos como vivendo em tendas, cavando poços, e criando carneiros e cabras? Bom, inúmeras tribos beduínas continuam com esse mesmo estilo de vida até os dias de hoje. Essas tribos percorrem todo o deserto, passando próximo à costa e adentrando no deserto novamente, tudo exatamente como era feito nos tempos bíblicos, tendo poucas diferenças, como alguns animais em questão e os nomes dos locais, que mudaram ao longo dos milênios.

Beduínos do deserto da Arábia.

Um ponto interessante é que essas tribos não utilizavam camelos como as atuais. Os pesquisadores teorizam que isso acontecia por conta do camelo ainda não ser domesticando em grandes números como é hoje.

Talvez fossem utilizados para propósitos diferentes, ou talvez ainda não houvesse alguma “utilidade” aparente, tendo em vista que burros e jumentos domesticados já existiam em números bem maiores e eram relativamente mais fáceis de se lidar.

Antigos textos egípcios descrevem algumas caravanas de “estrangeiros” como tendo até 800 jumentos, porém, o número de jumentos para uma caravana normal, raramente excedia 200, como nos dizem os textos da já citada cidade de Mari. Os Habiru/Ibrim, portanto, não eram grandes caravaneiros, mas sim, criadores de rebanhos, que utilizavam o jumento como meio de transporte.

Na realidade, ao que se sabe, essas “tribos do deserto” já estavam em via de se tornar sedentárias por força de sua atividade da criação de carneiros e cabras, que os obrigavam a buscar pastagens e terras mais férteis, pois carneiros e cabras não sobrevivem no deserto, como sabemos. Os textos de Mari também descrevem contratos datados da época em questão entre camponeses e pastores para a utilização temporária de alguns campos, o que acabou permitindo que os habiru começassem a cultivar, enquanto seus rebanhos pastavam.

A própria bíblia afirma que eles o faziam: (Gn. XXVI, 12) “Enquanto o rebanho caminha, Isac semeia e colhe o grão”.

Escavação na cidade de Mari (Tell Hariri).

Segundo os textos bíblicos, a tribo de Abraão seguia um modelo patriarcal, o que era normal naquele tipo de estilo de vida, como é até hoje entre as tribos de beduínos atuais. Não se sabe se as tribos de seminômades estavam divididas apenas em clãs independentes de sangue, porém, é certo que os laços de sangue tinham grande importância no modo de vida deles. Quando uma tribo crescia de mais, ela se dividia, e cada uma das duas partes seguia à procura de novas terras e pastagens para seus animais.

O fato citado acima nos explica o porquê era comum que duas ou mais tribos diferentes reivindicassem um mesmo ancestral, o motivo é obvio, isso acontecia porque elas realmente tinham aquele ancestral em comum há muito tempo atrás, mas com o passar dos anos e o crescimento dessa tribo principal, foi ocorrendo essa divisão e consequentemente subdivisões entre essas tribos já divididas.

Pelo que sabemos sobre Abraão e sua tribo, eles veneravam o deus EL, que era a divindade suprema dos Cananeus, considerado o criador do mundo e de todas as criaturas que nele habitam. Esse deus era associado a uma força poderosa simbolizada as vezes por um touro dourado, as vezes por um homem sentado, trajando um longo chapéu pontudo. Não era o deus único, porém, era um tipo rei dos deuses locais, que embora não se envolvesse nos assuntos dos homens, merecia ser adorado e invocado.

El encontrada em Megido, 1100 a.e.c.

Pastor, caravaneiro, sacerdote de uma grande cidade, dentre outras. Todas esas "personalidades" provém de hipóteses não comprovadas sobre a vida de Abraão.

Nesse sentido, teorizemos em cima das evidências que são encontradas e apresentadas, como foi feito neste capitulo, não em cima de misticismo ou narrativas que se encontram apenas nos textos de uma única fonte.

SODOMA E GOMORRA

O próximo ponto que iremos analisar é o da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra.

O texto bíblico nos conta que Abraão e seu grupo haviam estado no Egito no decurso de suas “peregrinações”, isto é, na parte oriental do Nilo, lugar para onde os nômades da época se dirigiam com frequência à procura de pastagens para seus animais, como já citado.

Segundo o trecho descrito em (Gn. XII, 10), Abraão e seu clã teriam ido ao Egito para ficar algum tempo, pois a fome estava assolando seu povo e as pastagens estavam difíceis de se encontrar.

Não sabemos ao certo quanto tempo Abraão e os seus ficaram no Egito, mas podemos supor que foi uma estadia bem prolongada, pois ao retornarem do Egito, sua tribo tinha se tornado bem mais numerosa e por esse motivo, teve que ser dividida, o que como já citamos, era normal de se acontecer com as tribos de nômades da época. O texto conta que desentendimentos começaram a ocorrer entre os pastores de Abraão e Ló (sobrinho de Abraão), então os dois teriam conversado e decidido seguir em rumos diferentes, no intuito de acabar com as brigas que não eram bem vistas, principalmente tendo em vista que todos eram praticamente da mesma família.

Com a divisão da tribo, Abraão continuou sendo o patriarca da sua, enquanto Ló assumia o posto de patriarca da nova tribo, formada pela recém divisão. Após a conversa dos dois patriarcas, Ló e sua tribo deixam Abraão e dirigem-se para o rico vale do Jordão, próximo ao Mar Morto, como podemos ler em (Gn. XIII, 6-9).

Após algum tempo caminhando, Ló e sua tribo chegam à cidade de Sodoma, situada numa fértil planície do Vale de Sidim, conhecida pelos gregos antigos como Pentápole. Segundo os textos bíblicos, a planície em questão era tão grande que haviam cinco cidades em seu território, as cidades de Sodoma, Gomorra, Adama, Zeboim e Zoar. A história continua por um tempo, até que é dito que as cidades (Sodoma e Gomorra) e seus habitantes foram destruídos por deus por conta de seus pecados e práticas imorais, dentre os quais, a tentativa de estupro a dois “anjos do Senhor”.

Deus teria destruído as cidades com fogo e enxofre (Gn. XVIII e XIX, 24 e 28) “Então o senhor fez cair sobre Sodoma e Gomorra uma chuva de enxofre e de fogo...Ele destruiu as cidades e a vegetação do solo... Ló viu subir da terra uma fuma fumaça semelhante à de uma fornalha”.

Perceba que no trecho acima, o redator bíblico parece tentar explicar à sua maneira um fenômeno cuja lembrança lhe foi transmitida pela tradição. Esse evento, atribuído pelo redator à vingança do senhor, pode realmente ter acontecido, porém, de maneira diferente, como explicaremos a seguir.

Destruição de Sodoma e Gomorra.

Estudados por geólogos, tanto o solo da região quanto o Mar Morto apresentaram certas peculiaridades que podem nos dar uma dica bastante certeira sobre o que realmente aconteceu no local, naquela época. Em 1951, o historiador, arqueólogo e geólogo americano Jack Finegan, publicou o resultado de seus estudos sobre a região, revelando que o solo era de origem vulcânica, bem como que o Mar Morto conta com um enorme depósito de gases naturais, situados abaixo do leito do mar, e que avançam por baixo de grande parte do deserto.

Finegan então, afirma que a fissura na qual se situa a região em questão foi e é sujeita à violentos terremotos. O estudioso não parou por aí, em seu estudo ele também comprova que os resultados demonstram que por volta do século XIX a.e.c., um grande terremoto havia provocado uma depressão violentíssima em toda a planície de Sidim, acompanhada de um grande desprendimento de gases, como enxofre e outros, e também de uma ou mais erupções vulcânicas.

Era exatamente nessa planície que se localizavam as cidades, como já citado. Estaria assim, devidamente explicada a descrição feita nos textos bíblicos sobre o fogo, enxofre e a “fumaça de fornalha” que subia alto no céu.

Há também arqueólogos que defendem a tese de que as referidas cidades subsistem com outras designações a Sudeste do Mar Morto. Outros pesquisadores sustentam que um meteoro atingiu as cidades, devastando-as totalmente sem deixar qualquer vestígio. Também existem outros que acreditam na veracidade do relato bíblico, e inclusive, outros que acreditam que alienígenas destruíram as cidades com suas armas tecnológicas, e por fim, os que defendem que as cidades jamais existiram de verdade.

Bom, o verdadeiro motivo do possível cataclismo ainda não nos é sabido, podemos apenas teorizar de acordo com as evidências que encontramos. Fato é que ao redator bíblico, bastou a simplicidade para explicar esse evento, sendo interpretado como a ira de deus, a “cólera de Yahwé”. Independentemente de como tenha sido o cataclismo de Sodoma e Gomorra, de certa não partiu da vingança de um deus ou de naves alienígenas, mas sim, ocorreu devido à eventos naturais que já aconteciam na terra antes dessa época, acontecem nos dias atuais, e sem sombra de dúvidas, sempre irão acontecer.

Quanto à passagem da mulher de Ló, que ao olhar para trás foi “petrificada”, virando uma estátua de sal (Gn, XIX, 26), provavelmente é fruto da mesma mente criativa que atribuiu a destruição das cidades à ira de deus. Teólogos entendem essa passagem como uma explicação poética, fazendo alusão a curiosidade feminina, onde o redator bíblico exalta o poder de seu deus, ao mesmo tempo que relata o comportamento “curioso” das mulheres da época. Isso também acabava servindo de explicação para as curiosas formações salinas que a região possui, que hoje em dia são muito bem explicadas, mas na época em questão, não.

DAVI – MATADOR DE GIGANTES

Davi, que também foi um importante personagem bíblico, conhecido por ser o pai de Salomão e também por derrotar Golias de Gat, o gigante filisteu, tem uma história bastante peculiar. A data de existência de David pode ser determinada entre 1040-970 a.e.c., tendo reinado em Judá entre aproximadamente 1010-1003 a.e.c. e sobre todo o Reino Unificado de Israel entre 1003-970 a.e.c.

Davi também era um pastor, assim como Abraão, porém, chamou atenção do rei Saul, o primeiro rei de Israel, pois tocava muito bem a cítara, que é um tipo de harpa com o corpo mais arredondado. Ele era loiro, conforme nos diz o livro de (Sam. XVI, 12), portanto, não poderia ser israelita.

Pesquisadores acreditam que Davi era na verdade, um cananeu errante adepto da religião de Yahwe. Davi então teria sido convidado a tocar para Saul, para distrai-lo e acalma-lo, como a bíblia cita em (Sam. XVI, 23). Após algum tempo trabalhando como musico para o rei Saul, Davi acaba se tornando genro do mesmo e consequentemente ganha mais status e respeito.

Recriação de uma Cítara da época, provavelmente igual á tocada por Davi.

Pouco tempo depois situa-se o célebre episódio da luta de Daví contra Golías, o gigante filisteu (Sam. XVII). Sobre real tamanho de Golias, temos apenas as descrições bíblicas para nos basearmos, que diz que ele teria seis côvados e um palmo, equivalente a aproximadamente 2,83 metros de altura. De qualquer jeito, seu tamanho pouco importa para os objetivos deste artigo.

Davi teria vencido Golias ao se utilizar de uma funda, tipo de arma antigo, bastante usado na época em questão. A funda é uma arma de arremesso constituída por uma corda dobrada, onde no centro é colocado o objeto que se deseja lançar, girando-o e liberando-o em alta velocidade na direção do alvo.

Modelo de Funda, provavelmente igual às usadas nos tempos bíblicos.

Acontece que atualmente existem três teorias para a interpretação dessa passagem, as quais analisaremos agora.

1 – A primeira é simples, consiste na afirmativa de que o próprio Davi teria realmente abatido Golias, como nos diz o livro de (Sam. XVII), utilizando-se da funda como já citamos, e seria realmente o detentor dessa tão famosa façanha.


 

Encerraremos a Parte II deste estudo por aqui, na próxima semana, traremos a Parte III, que encerrará o artigo! Obrigado á todos que leram, espero que gostem!


(Não apresentaremos bibliografia nesta parte II, pois a bibliografia completa virá ao final do texto na parte III.)

 

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